Quem me conhece sabe que sempre depositei grande
confiança na figura de Paulo Portas. Achava que o rumo para um Portugal melhor
passava por esta personificação da antiga direita, da direita culta e
moralista.
Porém num curto espaço de tempo tudo mudou.
Hoje em dia não consigo
deixar de me sentir enganado. Tal como a amante que todos os dias espera que o
amado deixe a mulher, também eu esperei que Paulo Portas abandonasse o
politiquês em nome de Portugal, que a sua sobrevivência e a do seu partido
fossem secundaria em prol do bem estar geral do pais. Porém, outros valores
mais altos se levantaram e a história (como sempre) repetiu-se.
O processo foi ridículo. Gaspar despede-se às
custas de técnicalidades insignificantes. Portas, que num misto de insegurança
pelo novo clima criada e vendo à sua frente as portas do paraíso governamental
abertas pela saída de uma das figuras fulcrais, aproveita para entrar da forma
mais berrante e teatral possível.
O primeiro
passo era obvio: arranjar uma desculpa idiotica que pegasse no publico, no
CDS e em meia dúzia de comentadores ainda mais idioticos que a desculpa por ele
referida. E é aí que entra em cena Maria Luísa Albuquerque (que estranhamente,
depois de todas as negociações, permanece ainda no governo; será por causa de
um finca-pé do PSD ou porque simplesmente já não tinha utilidade pratica no
show de burlesco criado por Portas?) que rapidamente serve de fachada para o
plano que agora se encontra em rumo.
Cria-se a instabilidade na
bolsa e no publico (algo ajudado por Gaspar), afaga-se o ego da esquerda (para
reparar em tal facto vejam as declarações megalómanas de Jerónimo de Sousa
sobre a possível queda do pais ser resultado da eterna "luta" do PCP)
e já temos uma crise política. Agora espera-se a queda do fruto já maduro nas
mãos de Portas.
Porém, Passos, um passo a frente, não cede nem
faz caso da jogada centrista.
Passo
dois: como o passo um não foi
lucrativo o suficiente é necessário sacrificar-se peões centristas. Entra então
em cena Assunção Cristas e Mota Soares. Nesta altura o palco político português
já parece uma peça shakspereana, morte, intriga, romance? (já que todos podemos
especular, também quero poder mandar as minhas larachas sobre um possível
romance entre Portas e Ferreira Leite ou com Pacheco Pereira, só para dar mais
profundidade ao enredo). Ninguém se salva, nem mesmo os competentes, como é o
caso dos ministros anteriormente referidos.
Passos não pode recuar mais e o publico vira-se
para Cavaco, que como uma mãe que vê o filho partir para a guerra, observa
incapaz o seu projecto político (um presidente, um partido e um primeiro
ministro) que tantas desavenças já lhe tinha causado no passado (não tenho de
relembrar os conflitos com José Sócrates) lentamente desvanecer numa bruma de
governos de salvação e de eleições antecipadas.
Passo três: Com congressos nacionais convocados, uma crise política
instalada e um Primeiro-Ministro encostado às cordas, está na altura de emergir
reluzente das ruínas pelo mesmo causadas e mostrar-se disposto a negociar em
prol da "estabilidade política do pais, ou, por outras palavras, mais
poder, mais pastas e mais ministros, também eles com mais poder.
A jogada de Paulo Portas foi (para quem aprecia
uma boa jogada política) de uma eficiência e de um pragmatismo tal que quase
merece ser referida em qualquer edição de "A arte da Guerra" de Sun Tzu
ou, quiçá, substituir o prefacio Napoleónico do "Príncipe" de
Maquiavel.
Porém, num esforço estóico para elevar o papel
do CDS dentro da lógica governamental e o seu próprio valor dentro da
coligação, Portas esqueceu-se do ponto principal da vida política portuguesa. O
povo português pode ser dos povos que menos ligam a política, mas é dos povos
que mais claramente distinguem o certo do errado. Para o povo Português os fins
nunca justificaram os meios e o que Portas fez, independente de qualquer que
seja o resultado, foi errado e uma cobardia, e o eleitor tem noção disso.
De momento, para este Governo
e para os seus apoiantes, cada dia deve ser vivido como o ultimo, pois nada
está garantido. Mas, tal como Che Guevara, as acções de Portas deitaram por
terra qualquer possibilidade de um novo Governo de direita num futuro que já por
si parecia sombrio o suficiente.
"Errare humanum est", já diziam os
antigos, mas também é dito que a definição de loucura é "fazer sempre a
mesma acção esperando um resultado diferente". Quantas mais vezes teremos
de ver governos de direita cair por culpa de Portas até chegarmos a conclusão
que já não são simples erros mas sim loucura?
Luis Sousa
1º ano, Ciência Política
O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor.