domingo, 14 de julho de 2013

Paulo Guevara Portas: as memórias de um revolucionário

Quem me conhece sabe que sempre depositei grande confiança na figura de Paulo Portas. Achava que o rumo para um Portugal melhor passava por esta personificação da antiga direita, da direita culta e moralista.

Porém num curto espaço de tempo tudo mudou. 


Hoje em dia não consigo deixar de me sentir enganado. Tal como a amante que todos os dias espera que o amado deixe a mulher, também eu esperei que Paulo Portas abandonasse o politiquês em nome de Portugal, que a sua sobrevivência e a do seu partido fossem secundaria em prol do bem estar geral do pais. Porém, outros valores mais altos se levantaram e a história (como sempre) repetiu-se.

O processo foi ridículo. Gaspar despede-se às custas de técnicalidades insignificantes. Portas, que num misto de insegurança pelo novo clima criada e vendo à sua frente as portas do paraíso governamental abertas pela saída de uma das figuras fulcrais, aproveita para entrar da forma mais berrante e teatral possível.

O primeiro passo era obvio: arranjar uma desculpa idiotica que pegasse no publico, no CDS e em meia dúzia de comentadores ainda mais idioticos que a desculpa por ele referida. E é aí que entra em cena Maria Luísa Albuquerque (que estranhamente, depois de todas as negociações, permanece ainda no governo; será por causa de um finca-pé do PSD ou porque simplesmente já não tinha utilidade pratica no show de burlesco criado por Portas?) que rapidamente serve de fachada para o plano que agora se encontra em rumo.

Cria-se a instabilidade na bolsa e no publico (algo ajudado por Gaspar), afaga-se o ego da esquerda (para reparar em tal facto vejam as declarações megalómanas de Jerónimo de Sousa sobre a possível queda do pais ser resultado da eterna "luta" do PCP) e já temos uma crise política. Agora espera-se a queda do fruto já maduro nas mãos de Portas.

Porém, Passos, um passo a frente, não cede nem faz caso da jogada centrista.

Passo dois: como o passo um não foi lucrativo o suficiente é necessário sacrificar-se peões centristas. Entra então em cena Assunção Cristas e Mota Soares. Nesta altura o palco político português já parece uma peça shakspereana, morte, intriga, romance? (já que todos podemos especular, também quero poder mandar as minhas larachas sobre um possível romance entre Portas e Ferreira Leite ou com Pacheco Pereira, só para dar mais profundidade ao enredo). Ninguém se salva, nem mesmo os competentes, como é o caso dos ministros anteriormente referidos.

 
Passos não pode recuar mais e o publico vira-se para Cavaco, que como uma mãe que vê o filho partir para a guerra, observa incapaz o seu projecto político (um presidente, um partido e um primeiro ministro) que tantas desavenças já lhe tinha causado no passado (não tenho de relembrar os conflitos com José Sócrates) lentamente desvanecer numa bruma de governos de salvação e de eleições antecipadas.


Passo três: Com congressos nacionais convocados, uma crise política instalada e um Primeiro-Ministro encostado às cordas, está na altura de emergir reluzente das ruínas pelo mesmo causadas e mostrar-se disposto a negociar em prol da "estabilidade política do pais, ou, por outras palavras, mais poder, mais pastas e mais ministros, também eles com mais poder.
 
A jogada de Paulo Portas foi (para quem aprecia uma boa jogada política) de uma eficiência e de um pragmatismo tal que quase merece ser referida em qualquer edição de "A arte da Guerra" de Sun Tzu ou, quiçá, substituir o prefacio Napoleónico do "Príncipe" de Maquiavel.

Porém, num esforço estóico para elevar o papel do CDS dentro da lógica governamental e o seu próprio valor dentro da coligação, Portas esqueceu-se do ponto principal da vida política portuguesa. O povo português pode ser dos povos que menos ligam a política, mas é dos povos que mais claramente distinguem o certo do errado. Para o povo Português os fins nunca justificaram os meios e o que Portas fez, independente de qualquer que seja o resultado, foi errado e uma cobardia, e o eleitor tem noção disso.


De momento, para este Governo e para os seus apoiantes, cada dia deve ser vivido como o ultimo, pois nada está garantido. Mas, tal como Che Guevara, as acções de Portas deitaram por terra qualquer possibilidade de um novo Governo de direita num futuro que já por si parecia sombrio o suficiente.

"Errare humanum est", já diziam os antigos, mas também é dito que a definição de loucura é "fazer sempre a mesma acção esperando um resultado diferente". Quantas mais vezes teremos de ver governos de direita cair por culpa de Portas até chegarmos a conclusão que já não são simples erros mas sim loucura?



Luis Sousa
1º ano, Ciência Política


O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor.

terça-feira, 9 de julho de 2013

O Aluno exemplar que nem nota para Recurso tem.



A crua realidade é que este artigo poderia ser uma espécie de biografia de diversos alunos universitários. O aluno que se esforça ao longo de vários semestres, que vai a todas as aulas, que fica no final das lições a fazer perguntas aos seus mestres, enfim, o discente que até recorre a diversas tranches de ajudas externas para passar na prova final… Mas nunca acaba por ser suficiente. Este aluno chama-se Portugal!

Portugal entrou para a escolinha Europeia em 1986. Tinha tudo para progredir, crescer, fazer-se num homem de barba rija. Seria a ponte marítima para mercados riquíssimos, a euforia era constante, a motivação imensa, a inteligência escassa. Décadas passaram, e a exigência do ensino começou a aumentar. A capacidade de absorção tornou-se diminuta nalguns casos, e oportunidades escorriam entre os dedos. Tivemos tudo para aproveitar, mas ficámos apenas com uma mão cheia de nada.

Reajo então, com um certo espanto, às mais recentes notícias que indicam que o nosso modesto país é o modelo exemplar de boa aplicação e gestão das medidas implantadas pelo FMI e pela Troika.

È claro o motivo que leva a esta distinção. Comemos e calamos. Surgem directizes que tornam premente o aumento dos impostos, e como boa gente que somos, imediatamente é isso que fazemos, não vá parecer mal aos olhos dos chefões. Deus nos livre!

A juntar ao acima descrito, surgem cortes numa segurança social cada vez mais debilitada, deixando milhares na miséria e outros tantos sem rumo para dar às suas vidas. Será isso mau? Longe disso, ponham os olhos em nós, aqui temos sempre bolinha verde no comportamento.

Deitemos para baixo do tapete um povo em crescente desagrado, manifestado cada vez mais pelas diversas demonstrações populares que tentam fazer chegar aos ouvidos dos nossos competentes dirigentes as dificuldades que se fazem sentir, o que importa aqui é o factor económico e financeiro.

Basicamente somos um relatório final de estágio onde a capa e a apresentação são belíssimas, mas cujo conteúdo é comparável ao de um artigo realizado por um aluno do 1º ciclo.

È clara a posição desta europa. O bem-estar social e dignidade humana são coisas de segundo plano, o que nos põe a comida na mesa no final do mês são juros da dívida menores, e não o investimento na criação de novos empregos.

O genial no meio desta mixórdia toda, é que mesmo seguindo todos os protocolos, todas as exigências e todas as medidas austeras, continuamos num poço sem fundo. Lutamos e trabalhamos arduamente ao longo de anos e acabamos por  ter de lamber botas para passarmos à rasca para o ciclo seguinte de medidas que aí vem. O povo? Esse que se lixe, se já aguentou até agora bem que pode aguentar mais um bocado.

É este o retrato subjectivo deste nosso país, lutamos, trabalhamos e damos o suor e as lágrimas para parecer bem aos olhos dos poderosos, mas acabamos por chumbar com uma mísera negativa que nos perspectiva um futuro ainda mais negro, mas sempre exemplar!
 

Tiago Gonçalves
2º ano, Ciência Política


O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor.



segunda-feira, 1 de julho de 2013

SWAP MAGIC

Hoje os caciques choram a perda de um líder, enquanto uns ingénuos festejam a queda de Vítor Gaspar. Eu, por mais repugnação que sinta pelo Vitor Gaspar, não vou festejar. 

Embora odeie caciques, quem me chateia mais são os ingénuos. Desde a queda do Estado Novo até ás ultimas legislativas tivemos quatorze governos (sem contar com as duas brincadeiras de Ramalho Eanes, os governos de iniciativa presidencial), e em praticamente todas elas houve remodelações e demissões. Agora remeto o leitor para uma análise política destas remodelações/demissões e pergunto: alguma vez a política dum governo mudou com caras novas? Claro que não, e isto até as crianças por nascer já sabem.

O importante é mudar a política, não as caras. As pessoas são as representantes da agenda ideológica do governo, e não é a sua imagem que muda a intensidade da sua agressão ao povo. Esta política só acaba quando todo o governo for derrubado (só por precaução, e sabendo que vou perder muitos "likes" com este aparte: eu não sou do PS e, para mim, este é igual ao PSD).

Para colmatar esta perda o governo fez um "swap" de Vitor Gaspar com Maria Luis Albuquerque. Para os desconhecedores, esta senhora é, até amanhã, Sec. de Estado do Tesouro, e ficou conhecida recentemente por ter participado nos contratos ruinosos das "swap", no que diz respeito a ela, à REFER. Apesar de não gostar do João Semedo ele proferiu a melhor frase que poderia ser dita para esta senhora: "é a primeira pessoa que, antes de ocupar a pasta das finanças, já tinha condições para ser demitida".

O background desta senhora conseguiu levar-me aos meus tempos de criança. Os leitores que ainda jogaram Playstation 2 são capazes de se lembrar do sistema que permitia jogar jogos gravados, chamado "Swap Magic". Este sistema tem uma coisa em comum com o historial desta senhora e sua "swap" com Vítor Gaspar: é lixo e acabava sempre por estragar a Playstation. Infelizmente receio o mesmo destino para o país.



Pedro Aires
2º ano, Ciência Política



O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor.