domingo, 23 de junho de 2013

Turquia: o fim da Democracia?


Depois de décadas em que a religião foi reprimida, a Turquia tornou-se no regime mais republicano e laico dos países muçulmanos. A sua história fala por si: Mustafa Kemal Ataturk aboliu o califado, laicizou o governo e a educação, deu direitos civis às mulheres (1934), procedeu a uma "ocidentalização" do direito, do vestuário, dos hábitos, resumindo, das tradições da sociedade turca. Mas a sua ligação aos modelos ocidentais não termina aqui. Membro das Nações Unidas e do Conselho da Europa, bem como da OTAN, e da OCDE, esta República expressou o seu desejo de adesão à União Europeia.


O país aproximava-se, a passos lentos, mas voluntários, das nossas sociedades, apesar da sua diversidade cultural, maioritariamente islâmica. Parecia conciliar a democracia com a religião do Islão, servindo de exemplo para outros país do mundo islâmico.

Mas essa conciliação exemplar parece ter ruído. A sociedade está a dar sinais francos de polarização e de intolerância, e Erdogan tornou-se no principal polarizador. Muito popular na Turquia rural e do interior, entre as pessoas com níveis mais baixos de educação, mais conservadoras e mais religiosas, este não representa o "outro lado" da sociedade turca.

É de salientar que o Parque Gezi, reflexo da falta de processos de decisão democrática, é apenas a "árvore que esconde a floresta". O que começou por ser um protesto de natureza ecológica, transformou-se, rapidamente, num movimento político de massas que traduz o problema da Turquia: a falta de democracia.


O erro de Erdogan foi pensar que podia esconder essa falha com recurso à repressão. Mas enganou-se, a força não resolve nada. A reação da polícia, acusada de "uso excessivo da força", e a do próprio primeiro-ministro, personagem principal do autoritarismo crescente, só conseguiram exaltar os ânimos. O Governo turco conseguiu calar os médias, desincentivando, e multando as televisões nacionais por transmitirem as imagens dos protestos, controlar as redes sociais, usar a força contra os seus opositores, em certos casos persegui-los, prendê-los, calá-los, mas não conseguiu derrubá-los. Se o fim da Democracia não chegou, foi porque o povo manisfestante não deixou.


Pondo em causa vários princípios democráticos, Erdogan aumentou o seu leque de opositores, pessoas de todas as classes sociais a nível interno, países como a França e a Alemanha, a nível externo. E até algumas hesitações provenientes do seu próprio partido. Mas opositores, afinal, todos nós temos. O que nos distingue, é a forma como lidamos com eles.


Sara Nogueira
1º ano, Ciência Política


O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor.

sábado, 22 de junho de 2013

Manifestações são coisa de pobre… (ou não)!


O gigante acordou. Milhares de brasileiros saíram à rua lutando por um sistema melhor - contra o aumento do preço dos transportes públicos e ainda contra os 15 mil milhões de dólares dos contribuintes destinados à Copa das Confederações de 2014.

Mas estes valentes não se ficam por aqui, também denunciam a corrupção enraizada na política brasileira e exigem maiores e melhores investimentos na educação, na saúde e na segurança.

Sem medos e dispostos a aceitar as consequências, milhares de pessoas fazem-se ouvir, a uma só voz proclamam aquilo a que chamo o “Grito do Ipiranga 2.0”.

Os seus atos já tiveram consequências. As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Campo Grande já começaram a dar ouvidos aos manifestantes e preparam-se para baixar o preço dos transportes públicos. Seguindo estes passos estão as cidades de  Porto Alegre, Cuiabá, Recife e João Pessoa.

Na Turquia, aquilo que começou por ser um protesto pacífico contra os planos de remodelação da emblemática Praça Taksim, em Istambul, no último dia de Maio transformou-se num protesto diário contra o Governo de Recep Tayyip Erdogan. O protesto “ já não é só por causa de árvores, é sobre a pressão exercida por este Governo. Estamos fartos, não gostamos da direção que este país está a tomar", disse Mert Burge, um estudante de 18 anos, à Reuters.

Em Portugal,…bem em Portugal tudo vai bem com ajuda da nossa Europa solidária, as medidas de austeridade para 2012 e 2013 visam reforçar os esforços de consolidação orçamental da economia portuguesa. No leque de medidas temos o congelamento do indexante de apoios sociais e a suspensão da aplicação das regras de indexação de pensões. A contribuição especial, aplicável a todas as pensões (com impactos semelhantes à redução dos salários na Administração Pública), com cortes em todas as que sejam superiores a 1500 euros; a redução dos custos com medicamentos e subsistemas públicos de saúde, e o aprofundamento da racionalização da rede escolar.

Em suma, tudo isto para dizer que por cá tudo vai bem. Por cá estamos todos tranquilos à espera que o Verão apareça, e com sorte, ainda aparece alguma promoção que nos deixe ir ao Algarve com os últimos 100 euros que temos. Estamos cada vez mais ricos, temos uma classe política cada vez melhor e o interesse nacional é a meta de todos nós. Aliás os brasileiros fazem manifestações contra os gastos do mundial, os portugueses gritam que são os maiores e colocam bandeiras às janelas. E porquê? Porque o que o povo quer é pão e circo, desde que haja o Splash da SIC, o Big Brother da TVI, as promoções do Pingo Doce, produtos do polegar no Jumbo e cupões de desconto na BP, estamos bem. Enquanto houver dinheiro para a bica no café do bairro e para pagar a assinatura da Sport TV, estamos todos bem!

Manifestações é coisa de gente pobre, manifestações são para gente desordeira, manifestações são para comunas. No geral nós gostamos de nos manifestar em casa, ou manifestamo-nos através da abstenção, aliás esse nosso protesto tem dado imensos resultados, conseguimos impactar a Europa e quiçá o mundo.

É este pensamento, tipicamente português, que me revolta a ideia de que manifestações são para gente comunista, gente pobre, gente que não gosta de trabalhar, porque se gostassem estavam no centro de emprego e não na Baixa-Chiado feitos macacos aos gritos. As manifestações são para jovens radicais, não esquecendo que toda a manifestação é motivo para no final se beber uma mini geladinha e acompanhar com um prego no pão!

O que eu gostava de viver num país como o Brasil ou como a Turquia. O que eu gostava que o povo português, enchesse o peito de ar e fosse para a rua lutar, lutar por algo melhor, lutar contra o que é cómodo. Que o povo saísse da sua zona de conforto e como um só, fizéssemos estremecer as ruas do nosso querido país, de Norte a Sul.

As manifestações não são feitas somente no Facebook, não são feitas no café do Senhor António. As manifestações não têm que espelhar uma ideologia politica, têm que espelhar um povo, um povo forte, unido e coeso, um povo como o povo português era e é.

Infelizmente, por cá o Gigante ainda não acordou! Eu espero, sinceramente, que um dia acordemos e possamos ir todos para a rua: novos, velhos, conservadores, progressistas, comunistas, socialistas, sociais-democratas, todos! 

 Rute Sousa
3º ano, Ciência Política

O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Da falta de Educação



Nos últimos tempos tenho ouvido ataques cerrados aos professores que, dizem, utilizam os seus alunos como “escudos”. Curiosamente, quem disfere tais ataques, são os mesmos que se estão pouco nas tintas para os alunos, preocupados apenas com os cortes orgásmicos nas suas tabelas de Excel.

Nessa sua hipocrisia de defensores dos estudantes, e julgando-se paladinos da verdade, julgam que as greves só são permitidas quando o Governo não usa a sua camisola politico-partidária. Os mesmos que há uns anos exortavam e apelavam à contestação, se fosse essa a vontade popular.

E qual é hoje a defesa dos alunos com que hoje nos presenteiam? Será que quando se aumenta o número de alunos por turma, é defesa dos alunos? Quando se despedem (ou requalificam, como preferirem) milhares e milhares de professores, é defesa dos alunos? Quando se corta em apoios e recursos educativos, é defesa dos alunos? Aumentar carga horária é defesa dos alunos?

Os professores estão em greve para combater tudo isso. Baixar os braços e não se manifestar é pactuar com a destruição da escola pública e deixar o Governo seguir incólume. Ninguém está a lutar por privilégios, mas sim por melhores condições laborais. Quem luta por essas melhores condições, luta por uma melhor Educação e, consequentemente, luta por melhores condições para os alunos. Se essa luta tem de ser feita em dia de exame, que o seja;  é o resultado do obscurantismo e a falta de respeito com que o Governo tratou deste processo.
A integridade nestes dias não se distingue entre quem faz e quem não faz greve. Conheço professores bastante íntegros que apesar de formalmente fazerem greve, estarão presentes nos dias dos exames com os seus alunos. Como se nada fosse.

Estou solidário. Principalmente com aqueles professores que tantas esperanças depositaram neste Governo e neste Ministro da Educação, e que agora mostram fibra e coragem intelectual para admitir que as suas crenças mais justificadas carecem, mais que nunca, de fundamento.

A esses e a todos os outros, o meu mais sincero obrigado por me defenderem a mim e às gerações mais novas que a minha. Quem defende mais e melhor Educação, defende um país inteiro.



João Martins
1º Ano, Ciência Política

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Querido Senhor do Bigode


Sempre defendi o direito à greve. Afinal, é um direito!

Enquadrado legalmente, e tendo a entidade empregadora o queijo e a faca na mão, quando falham as negociações à mesa, a greve é a única forma dos trabalhadores defenderem os seus direitos – toda a gente tem a tendência de os defender sem deles abrir mão, falemos de trabalhadores, empregadores, ou de quem quer que seja. Ao fim ao cabo a greve é quase como que um factor de contrabalanço do poder, uma ferramenta reguladora.

No entanto, enoja-me esta greve dos professores aos exames, provas importantíssimas, ainda mais no ensino secundário. São necessárias para concluir o curso, especialmente para quem as faz por externo, essenciais no acesso ao ensino superior, valem uma parte considerável da nota final... Parece-me hipocrisia que os professores que tanto fazem e gostam dos seus alunos, que passam todo um ano lectivo a prepará-los precisamente para estes exames, agora decidam que a única forma de demover o governo daquilo que consideram injusto seja injustiçar e prejudicar os seus queridos estudantes. Porque quem sai prejudicado disto são os alunos, não o governo, não mais ninguém.

Recordo um professor de matemática que tive, homem íntegro. Numa aula em dia de greve, chegou, e para nosso desconsolo (que dia de greve era normalmente um dia santo) disse que era a primeira vez que fazia greve na vida. Não assinou o livro de ponto mas deu aula como se nada fosse, porque não nos queria prejudicar, dizia. Verdade seja dita que lhe descontaram o dia! Houvesse mais professores assim!

Que esta greve sem tino seja um redondo fracasso.

Vasco Antunes
1º Ano, Ciência Política

O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor. 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

"Bibó Puorto!!!"

O movimento Pró-Nortenho e a Portofobia alfacinha




Fiquei algo confuso com a capa do JN na passada terça-feira, 4 de Julho.
Lia-se a letras garrafais que o "Norte reclama poder político", isto numa análise ao ciclo de conferências promovidas nas celebrações dos 125 anos do Jornal de Notícias.

Num artigo em tudo parcial e defensor da "identidade nortenha" e da independência decisória necessária para a região, retiro duas afirmações que achei preponderantes na redacção deste artigo.

"Combater a Portofobia combatendo os erros de Lisboa"
Rui Moreira
"A marca Porto vale mais que a marca Portugal"
Luís Filipe Menezes

Sim, é certo que se fala da região que mais exporta no país. Também é um dado adquirido que muitas vezes a realidade "nacional" é medida pela situação da capital do país. Mas será que estas são razões suficientes para conceder à região uma autonomia política ao nível de uma região autónoma?

Falta a estes senhores encarar o óbvio. O centralismo tanta vezes criticado a Lisboa é comum também na região Norte. Temos todos a noção que jamais as cidade de Bragança ou da Guarda terão a quantidade de oportunidades e investimento que a região metropolitana do Porto. Há consciência da hegemonia económica portuense perante o resto da região. Então para quê este súbito sentimento independentista? Para quê o pedido de criação de, e passo a citar o artigo em questão, "uma espécie de ministro da região" norte?

Desde criança que ouvia o meu a avô referir-se às altas entidades da região do Porto e dizer "Estes têm a mania que são maiores que os outros!"
Sempre fui educado com a premissa de que, apesar de bem sucedidos,  os portuenses sempre tiveram a tendência de voltar às costas às decisões do Estado central, sendo muitas vezes excluídos por culpa própria. Em parte concordo com esta ideia, embora também defenda que é urgente uma nova linha orientadora para o desenvolvimento regional. Temos um país com enorme disparidade de desenvolvimento económico e social, uma bipolarização intrincada dos grandes centros de investimento e empregabilidade. Para que insistir numa cada vez mais disparidade entre os centros económicos e a periferia?
 
Nem os próprios promotores do ideal Pró-Nortenho acreditam no seu projecto. Ninguém no seu perfeito juízo pensaria que a marca Porto se sobrepõe à marca nacional, apenas sai prejudicada com a diminuição de valor da mesma. Também ninguém crê que uma cedência de poder administrativo e político à região norte iria permitir um maior desenvolvimento da mesma. Apenas ia atrair o restante investimento do norte do país para a região metropolitana do Porto, contribuindo cada vez mais para uma desertificação das áreas transmontanas e beirãs.
 
O maior problema é que em vez de haver uma cooperação regional para o desenvolvimento nacional, mais a sul só se pensa numa maneira de fazer uma reforma administrativa que permita manter a autonomia e hegemonia do poder central e consequente tentativa de controlo do "indomável" espírito nortenho e do seu poderio económico.
 
Com o Estado medroso que temos neste momento, será expectável que a reforma administrativa favoreça o norte. Há demasiada pressão socio-económica sobre o governo para que este se dê ao luxo de não satisfazer os caprichos daqueles que detêm o capital. E no final tudo caminhará para uma "Região Autónoma do Norte", com o Porto como capital e centro de decisão.

Quer se goste ou não (e claramente a maioria não gosta) da actuação deste governo, temos que ter a consciência da necessidade de puxar para o mesmo lado na luta árdua que é a recuperação nacional.
Mas pelos vistos, para alguns é mais importante gritar "Bibó Puorto!!!"


Ricardo Agostinho
2º ano, Ciência Política

O artigo publicado é da exclusiva reponsabilidade do seu autor.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Queixo-me mas não voto…



Nos últimos actos eleitorais temos assistido a valores elevadíssimos de abstenção. Recordo, por exemplo, as últimas eleições legislativas (2011) em que, num momento em que se exigia seriamente a participação do povo, acabámos por ser brindados com 42,93% de abstenção, ou seja, quase metade dos eleitores simplesmente não se dignificaram a votar.


Na minha opinião, estes números põem em risco o funcionamento da democracia de um país. Por isso, num país como o nosso em que não verificamos qualquer inovação no sistema político há pelo menos 10 anos, acho que está na altura de se começar a fazer alguma coisa pela democracia em Portugal.


Quantas vezes ouvimos dizer que o voto é “mais do que um direito, é um dever cívico”? Espero que não seja o único a ouvir tal verdade que eu considero inquestionável. Porém, espero não ser também a única pessoa a pensar que se votar é um dever cívico, porque não torná-lo obrigatório?


Neste momento, as principais causas que levam à abstenção são o puro desinteresse pela vida política e o descontentamento com a classe política. Ora, com o voto obrigatório a população seria de certa forma incentivada a interessar-se pela política, por ler os programas eleitorais, por descobrir, por conhecer e, sobretudo, por votar conscientemente no que deseja para o seu país, concelho ou freguesia.


Por outro lado, ouvimos muitas vezes a famosa expressão “São todos iguais”. Mas os mesmos que dizem tal barbaridade são, muitas vezes, os mesmos que nem sequer se dão ao trabalho de votar. Eu pergunto que legitimidade é que uma pessoa que não vota tem para criticar o trabalho de um governo ou de um executivo camarário. Se essas pessoas não se identificam com a classe politica, devem simplesmente manifestar o seu desagrado e o seu afastamento votando em branco. 
 
Pelas razões referidas anteriormente, considero que a obrigatoriedade de votar é um passo que tem de ser dado com vista a evolução do nosso sistema político e a maior participação do povo nas decisões do país, pois é essa participação que faz da democracia a melhor forma de governo.

João Louro
1º ano Ciência Política 

O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor.