sábado, 22 de junho de 2013

Manifestações são coisa de pobre… (ou não)!


O gigante acordou. Milhares de brasileiros saíram à rua lutando por um sistema melhor - contra o aumento do preço dos transportes públicos e ainda contra os 15 mil milhões de dólares dos contribuintes destinados à Copa das Confederações de 2014.

Mas estes valentes não se ficam por aqui, também denunciam a corrupção enraizada na política brasileira e exigem maiores e melhores investimentos na educação, na saúde e na segurança.

Sem medos e dispostos a aceitar as consequências, milhares de pessoas fazem-se ouvir, a uma só voz proclamam aquilo a que chamo o “Grito do Ipiranga 2.0”.

Os seus atos já tiveram consequências. As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Campo Grande já começaram a dar ouvidos aos manifestantes e preparam-se para baixar o preço dos transportes públicos. Seguindo estes passos estão as cidades de  Porto Alegre, Cuiabá, Recife e João Pessoa.

Na Turquia, aquilo que começou por ser um protesto pacífico contra os planos de remodelação da emblemática Praça Taksim, em Istambul, no último dia de Maio transformou-se num protesto diário contra o Governo de Recep Tayyip Erdogan. O protesto “ já não é só por causa de árvores, é sobre a pressão exercida por este Governo. Estamos fartos, não gostamos da direção que este país está a tomar", disse Mert Burge, um estudante de 18 anos, à Reuters.

Em Portugal,…bem em Portugal tudo vai bem com ajuda da nossa Europa solidária, as medidas de austeridade para 2012 e 2013 visam reforçar os esforços de consolidação orçamental da economia portuguesa. No leque de medidas temos o congelamento do indexante de apoios sociais e a suspensão da aplicação das regras de indexação de pensões. A contribuição especial, aplicável a todas as pensões (com impactos semelhantes à redução dos salários na Administração Pública), com cortes em todas as que sejam superiores a 1500 euros; a redução dos custos com medicamentos e subsistemas públicos de saúde, e o aprofundamento da racionalização da rede escolar.

Em suma, tudo isto para dizer que por cá tudo vai bem. Por cá estamos todos tranquilos à espera que o Verão apareça, e com sorte, ainda aparece alguma promoção que nos deixe ir ao Algarve com os últimos 100 euros que temos. Estamos cada vez mais ricos, temos uma classe política cada vez melhor e o interesse nacional é a meta de todos nós. Aliás os brasileiros fazem manifestações contra os gastos do mundial, os portugueses gritam que são os maiores e colocam bandeiras às janelas. E porquê? Porque o que o povo quer é pão e circo, desde que haja o Splash da SIC, o Big Brother da TVI, as promoções do Pingo Doce, produtos do polegar no Jumbo e cupões de desconto na BP, estamos bem. Enquanto houver dinheiro para a bica no café do bairro e para pagar a assinatura da Sport TV, estamos todos bem!

Manifestações é coisa de gente pobre, manifestações são para gente desordeira, manifestações são para comunas. No geral nós gostamos de nos manifestar em casa, ou manifestamo-nos através da abstenção, aliás esse nosso protesto tem dado imensos resultados, conseguimos impactar a Europa e quiçá o mundo.

É este pensamento, tipicamente português, que me revolta a ideia de que manifestações são para gente comunista, gente pobre, gente que não gosta de trabalhar, porque se gostassem estavam no centro de emprego e não na Baixa-Chiado feitos macacos aos gritos. As manifestações são para jovens radicais, não esquecendo que toda a manifestação é motivo para no final se beber uma mini geladinha e acompanhar com um prego no pão!

O que eu gostava de viver num país como o Brasil ou como a Turquia. O que eu gostava que o povo português, enchesse o peito de ar e fosse para a rua lutar, lutar por algo melhor, lutar contra o que é cómodo. Que o povo saísse da sua zona de conforto e como um só, fizéssemos estremecer as ruas do nosso querido país, de Norte a Sul.

As manifestações não são feitas somente no Facebook, não são feitas no café do Senhor António. As manifestações não têm que espelhar uma ideologia politica, têm que espelhar um povo, um povo forte, unido e coeso, um povo como o povo português era e é.

Infelizmente, por cá o Gigante ainda não acordou! Eu espero, sinceramente, que um dia acordemos e possamos ir todos para a rua: novos, velhos, conservadores, progressistas, comunistas, socialistas, sociais-democratas, todos! 

 Rute Sousa
3º ano, Ciência Política

O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor.

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