Depois de décadas em que a religião foi reprimida, a Turquia tornou-se no regime mais republicano e laico dos países muçulmanos. A sua história fala por si: Mustafa Kemal Ataturk aboliu o califado, laicizou o governo e a educação, deu direitos civis às mulheres (1934), procedeu a uma "ocidentalização" do direito, do vestuário, dos hábitos, resumindo, das tradições da sociedade turca. Mas a sua ligação aos modelos ocidentais não termina aqui. Membro das Nações Unidas e do Conselho da Europa, bem como da OTAN, e da OCDE, esta República expressou o seu desejo de adesão à União Europeia.
O país aproximava-se, a passos lentos, mas voluntários, das nossas sociedades, apesar da sua diversidade cultural, maioritariamente islâmica. Parecia conciliar a democracia com a religião do Islão, servindo de exemplo para outros país do mundo islâmico.
Mas essa conciliação exemplar parece ter ruído. A sociedade está a dar sinais francos de polarização e de intolerância, e Erdogan tornou-se no principal polarizador. Muito popular na Turquia rural e do interior, entre as pessoas com níveis mais baixos de educação, mais conservadoras e mais religiosas, este não representa o "outro lado" da sociedade turca.
É de salientar que o Parque Gezi, reflexo da falta de processos de decisão democrática, é apenas a "árvore que esconde a floresta". O que começou por ser um protesto de natureza ecológica, transformou-se, rapidamente, num movimento político de massas que traduz o problema da Turquia: a falta de democracia.
O erro de Erdogan foi pensar que podia esconder essa falha com recurso à repressão. Mas enganou-se, a força não resolve nada. A reação da polícia, acusada de "uso excessivo da força", e a do próprio primeiro-ministro, personagem principal do autoritarismo crescente, só conseguiram exaltar os ânimos. O Governo turco conseguiu calar os médias, desincentivando, e multando as televisões nacionais por transmitirem as imagens dos protestos, controlar as redes sociais, usar a força contra os seus opositores, em certos casos persegui-los, prendê-los, calá-los, mas não conseguiu derrubá-los. Se o fim da Democracia não chegou, foi porque o povo manisfestante não deixou.
Pondo em causa vários princípios democráticos, Erdogan aumentou o seu leque de opositores, pessoas de todas as classes sociais a nível interno, países como a França e a Alemanha, a nível externo. E até algumas hesitações provenientes do seu próprio partido. Mas opositores, afinal, todos nós temos. O que nos distingue, é a forma como lidamos com eles.
Sara Nogueira
1º ano, Ciência Política
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