O movimento Pró-Nortenho e a Portofobia alfacinha
Fiquei algo confuso com a capa do JN na passada terça-feira, 4 de Julho.
Lia-se a letras garrafais que o "Norte reclama poder político", isto numa análise ao ciclo de conferências promovidas nas celebrações dos 125 anos do Jornal de Notícias.
Num artigo em tudo parcial e defensor da "identidade nortenha" e da independência decisória necessária para a região, retiro duas afirmações que achei preponderantes na redacção deste artigo.
"Combater a Portofobia combatendo os erros de Lisboa"
Rui Moreira
"A marca Porto vale mais que a marca Portugal"
Luís Filipe Menezes
Sim, é certo que se fala da região que mais exporta no país. Também é um dado adquirido que muitas vezes a realidade "nacional" é medida pela situação da capital do país. Mas será que estas são razões suficientes para conceder à região uma autonomia política ao nível de uma região autónoma?
Falta a estes senhores encarar o óbvio. O centralismo tanta vezes criticado a Lisboa é comum também na região
Norte. Temos todos a noção que jamais as cidade de Bragança ou da
Guarda terão a quantidade de oportunidades e investimento que a região
metropolitana do Porto. Há consciência da hegemonia económica portuense
perante o resto da região. Então para quê este súbito sentimento independentista? Para quê o pedido de criação de, e passo a citar o artigo em questão, "uma espécie de ministro da região" norte?
Desde criança que ouvia o meu a avô referir-se às altas entidades da região do Porto e dizer "Estes têm a mania que são maiores que os outros!"
Sempre fui educado com a premissa de que, apesar de bem sucedidos, os portuenses sempre tiveram a tendência de voltar às costas às decisões do Estado central, sendo muitas vezes excluídos por culpa própria. Em parte concordo com esta ideia, embora também defenda que é urgente uma nova linha orientadora para o desenvolvimento regional. Temos um país com enorme disparidade de desenvolvimento económico e social, uma bipolarização intrincada dos grandes centros de investimento e empregabilidade. Para que insistir numa cada vez mais disparidade entre os centros económicos e a periferia?
Nem os próprios promotores do ideal Pró-Nortenho acreditam no seu projecto. Ninguém no seu perfeito juízo pensaria que a marca Porto se sobrepõe à marca nacional, apenas sai prejudicada com a diminuição de valor da mesma. Também ninguém crê que uma cedência de poder administrativo e político à região norte iria permitir um maior desenvolvimento da mesma. Apenas ia atrair o restante investimento do norte do país para a região metropolitana do Porto, contribuindo cada vez mais para uma desertificação das áreas transmontanas e beirãs.
O maior problema é que em vez de haver uma cooperação regional para o desenvolvimento nacional, mais a sul só se pensa numa maneira de fazer uma reforma administrativa que permita manter a autonomia e hegemonia do poder central e consequente tentativa de controlo do "indomável" espírito nortenho e do seu poderio económico.
Com o Estado medroso que temos neste momento, será expectável que a reforma administrativa favoreça o norte. Há demasiada pressão socio-económica sobre o governo para que este se dê ao luxo de não satisfazer os caprichos daqueles que detêm o capital. E no final tudo caminhará para uma "Região Autónoma do Norte", com o Porto como capital e centro de decisão.
Quer se goste ou não (e claramente a maioria não gosta) da actuação deste governo, temos que ter a consciência da necessidade de puxar para o mesmo lado na luta árdua que é a recuperação nacional.
Mas pelos vistos, para alguns é mais importante gritar "Bibó Puorto!!!"
Ricardo Agostinho
2º ano, Ciência Política
O artigo publicado é da exclusiva reponsabilidade do seu autor.
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