domingo, 7 de abril de 2013

A coragem e o dinheiro

O Tribunal Constitucional decretou a inconstitucionalidade de algumas normas do Orçamento de Estado, mexendo em cerca de 1200 milhões de euros, cerca de 0,6% do PIB.
Em primeiro lugar, devemos ter em conta os custos que isto acarreta aos portugueses, e antes de qualquer quezília político-partidária, de qualquer ataque à lei fundamental, é preciso ter em consideração que a austeridade não acaba. Pelo contrário, poderá inclusive aumentar. Acontece apenas que se terá que distribuir de outra maneira. Além disso, em alguma imprensa começam a surgir notícias de um segundo resgate, que, a existir, dificultará ainda mais os portugueses, provando que o pior é sempre possível. 
Em segundo lugar vêm todas as implicações políticas desta decisão. Com a remodelação do Governo na ordem do dia, esta decisão vem exigir, ainda mais, a mudança, a atitude, a acção, não só do Governo, mas da oposição e do Presidente. Mas não basta a mudança, a atitude e a acção, requerem-se coerentes, justas e dignas, porque, pelo que têm feito, os portugueses merecem isso.
O Governo não se demite, segundo Passos, e acusa o Tribunal Constitucional de ser causa de “dificuldades sérias ao país” e de provocar “efeitos negativos” na “credibilidade externa” do País (onde é que eu já ouvi isto?). A oposição, nomeadamente o Partido Socialista, quer, única e exclusivamente, eleições, e afirma que o Governo chegou ao fim. De Belém vem um comunicado que declara que o Governo tem “condições para cumprir o mandato democrático que foi investido”.

Ora, enquanto o Governo e a oposição se digladiam em acusações e em afirmações perentórias que o outro é que está errado e Cavaco Silva diz coisas (o que já é, só pelo facto de dizer algo, positivo), os portugueses sofrem. E exigem-lhes que aguentem, não mostrando o mínimo respeito, a mínima capacidade de entendimento, o mínimo espírito de abnegação de interesses político partidários.

Faz hoje exactamente 2 anos que o pedido de ajuda externa (ainda faz sentido que se lhe chame “ajuda”?) foi feito, e as coisas mudaram. Para pior. A esquerda que ajudou a derrubar o Governo da altura diz hoje o que dizia à 2 anos, com mais razão agora. A direita que derrubou o Governo está no Governo. E a esquerda que era Governo para lá quer voltar, lembrando-se agora de fazer uma oposição mais aguerrida, e, principalmente, mais desvinculada do seu passado, seja ele, após análise, positivo ou negativo.

A decisão do Tribunal Constitucional obriga à mudança. Dos cenários em cima da mesa, é escolher o menos mau, na certeza que, seja ele qual for, cá estaremos para pagar. Relembro Almada Negreiros, na iminência do que seria o seu 120º aniversário: "O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades”. As qualidades e dinheiro. 

João Silva
3º ano, Ciência Política 

O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor. 

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