Ao falarmos em Estado de Excepção, estamos também a falar de uma forma de violência do Estado para com os cidadãos. Esta violência é, sem dúvida, uma forma de projecção de poder por parte da elite governante para com as massas. É também uma forma de projecção de hegemonia ou, se quisermos, uma forma de projecção de uma ideia de poder que visa condicionar os cidadãos. É portanto uma forma de projecção do biopoder, esse que está enquadrado por uma política, que segundo Agamben nos torna a todos em seres vazios de conteúdo – Homini sacer.
Numa visão mais gramsciana é-nos possível afirmar que a biopolítica é uma forma de controlo das massas à sua condição de sacer (sagrados), ou seja, é em última instância uma forma de hegemonia a vários níveis. Quer a violência quer a hegemonia são as duas faces de uma mesma moeda. A moeda do controlo social por parte das elites.
Pondo esta questão num exemplo facilmente compreensível, poderemos dizer que a medida do Ministro das Finanças Vítor Gaspar em suspender todas as despesas correntes, utilizando aquilo a que podemos qualificar de “Ditadura das Finanças”, foi a meu ver uma forma de projecção de hegemonia e que se traduz numa forma de violência que podemos qualificar de Violência Indirecta. Quer isto dizer que este tipo de violência é, numa visão pessoal, uma forma de por os sujeitos políticos “no seu lugar” e mostrar, à saciedade, a sua força, o seu poder.
Então que tem tudo isto a ver com o Estado de Excepção? Na minha óptica está intimamente ligado a este fenómeno. Afirmo isto por considerar que só com a suspensão da política é possível executar uma série de medidas que visam controlar de forma absoluta, quase “leviatanica” os cidadãos que nestes momentos se vêem reduzidos à qualidade de massa amorfa que serve para controlar. É ao fim e ao cabo, um modo violento de mostrar o controlo sobre todo e cada um dos sujeitos que compõem a comunidade em que vivemos. É, em suma, uma forma avançada de biopolítica que visa inculcar o medo daquilo que está no outro lado da barricada para assim se poder conformar as mentalidades.
Concluindo, estes dois fenómenos (violência e hegemonia) estão ligados, pois ambos buscam uma forma de exercer um controlo social que de um modo maquiavélico se apoia no medo como forma de condicionar a comunidade na sua acção, que num acto reflexo condicionado se refugia nos seus símbolos de poder para criarem um falso sentido de segurança que leva ao servilismo para com a democracia ao invés da construção contínua e sempiterna de uma politeia por cumprir. É, por último, uma das derradeiras formas de controlo da “máquina” para com os cidadãos. Termino, afirmando que estas ferramentas criam uma espécie de suspensão dos ânimos que visam a criação de uma verdade que esconde o Real, a verdade bruta da realidade.
Hugo Brito
2º ano, Mestrado em Ciência Política
O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor.
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