Das peças de
teatro já existentes poucas me marcaram como “Salomé”, a tragédia bíblica
escrita pelo poeta, dramaturgo e prosador Oscar Wilde, em 1891.
A peça retrata o desejo de um relacionamento
amoroso entre a infame Salomé e Jokanaan (João Baptista), o profeta endoidecido. Conta ainda com a presença
da rainha Herodia e de Herodes, que se casam após Herodia matar o seu primeiro marido, o irmão de Herodes.
O enredo
geral é simples: uma princesa apaixona-se por um homem que não pode ter, um
poeta moralista e endoidecido, com uma retórica reminiscente do passado negro
desta casa real. Um rei apaixonado pela filha da mulher, que se recusa a ceder
aos desejos da mesma para matar Jokanaan, mesmo que esta veja a morte como a única
solução para poder estar com o seu amado. Um entrelaçar de relações amorosas,
mortes e dilemas éticos, à boa maneira das tragédias clássicas.
O mais
surpreendente desta peça é que no momento no qual nos encontramos vemos (algo que só acontece milenarmente) a realidade a produzir, atuar e
dirigir a obra.
É assim que, no palco politico português, se encontram todos os atores:
Salomé é
representada pelo C.D.S, cujo maior desejo é um beijo do profeta, uma pasta,
uma passagem de mão por seus cabelos, uma maior participação na tomada de
decisões, uma passagem de mão pelo corpo do amado.
O papel de
Jokanaan recai sobre Passos Coelho, o profeta moralista, intransigente nas suas
decisões e no rumo por si tomado, que, com duras palavras, recusa o afeto da
princesa, e quando tentado, apenas responde a “uma pergunta sem resposta…É uma
reserva do primeiro-ministro, o primeiro-ministro nunca deverá fazer
considerações públicas sobre se tem, ou não, ideias para remodelar.”, enquanto deambula
num discurso bíblico-ideológico sobre a conspurcação da casa real, do
estado-social, das mixórdias amorosas, dos gastos excessivos dos passados
governos socialistas.
O papel do
infame rei Herodes encontra-se preparado para António José Seguro, um rei que
se encontra numa constante batalha interior, entre ceder aos desejos da mulher e
da esquerda e executar o profeta, ou permanecer inalterado na sua vivência, não sofrendo o castigo divino de governar.
E, por fim, o
papel de Herodia está guardado para o P.C.P e para o Bloco de Esquerda, que tanto dormem com um e executam Sócrates, ou dormem com o outro e exercem pressão sobre
Herodes e sobre o P.S, tentando executar Passos, esperando que o governo
socialista faça uma viragem à esquerda.
Mais
importante que os atores propriamente ditos é o decorrer da peça. Salomé, louca
de amor pelo profeta, tenta Herodes (com um governo de coligação, quem sabe?)
para que este execute o Jokaanan, pois prefere tê-lo morto a não o ter de todo.
Herodes, na sua raiva, manda que a sua guarda avançada (o povo, neste caso) mate
Salomé, espezinhando-a até a morte em resultados eleitorais após ter executado o
profeta com moções de censura, passagens pelo Tribunal Constitucional e, por fim, nas urnas, mas perde o seu grande amor. Herodias permanece intacta, mas não
ascende no seu papel de personagem de fundo, de grupo de pressão sem
possibilidade de governar.
A peça já
está escrita e os atores já se encontram em palco, agora vejamos se sobem ou
não as cortinas.
Luís Francisco Sousa
1º ano, Ciência Política
1º ano, Ciência Política
O artigo publicado é da exclusiva responsabilidade do seu autor.
Muito boa analogia
ResponderEliminarObrigado, é sempre agradavel receber uma critica positiva.
Eliminar